“Vox”, de Christina Dalcher
Estados
Unidos da América. Um país orgulhoso de ser a pátria da liberdade e que faz
disso bandeira. É por isso que tantas mulheres, como a Dra. Jean McClellan,
nunca acreditaram que essas liberdades lhes pudessem ser retiradas. Nem as
palavras dos políticos nem os avisos dos críticos as preparavam para isso.
Pensavam: «Não. Isso aqui não pode acontecer.»
Mas
aconteceu. Os americanos foram às urnas e escolheram um demagogo. Um homem que,
à frente do governo, decretou que as mulheres não podem dizer mais do que 100
palavras por dia. Até as crianças. Até a filha de Jean, Sonia. Cada palavra a
mais é recompensada com um choque elétrico, cortesia de uma pulseira
obrigatória.
E isto
é apenas o início.
Vivemos
num mundo em constante mudança e que nos faz questionar a todo o momento para
onde seguimos. Em comparação com outros tempos temos uma liberdade imensa, sentimos
que temos o direito de dizer tudo o que nos vem à cabeça, mesmo que na verdade alguém
seja magoado por aquilo que dizemos. A internet e as redes sociais deram essa
liberdade às pessoas.
Este livro…bem,
este livro deixou-me com muitas perguntas na cabeça e uma delas foi se realmente
temos assim tanta liberdade como a que pensamos ter. Talvez seja ridículo
pensar assim e este livro é apenas mais um livro de ficção, mas levanta
questões muito importantes e deixa o leitor mais atento para aquilo que o
rodeia. A liberdade é algo ténue, até porque a nossa liberdade termina onde
começa a de outra pessoa, e talvez por isso seja sempre muito difícil de controlar talvez devido ao
facto de se poder comprometer a liberdade de outros mesmo sem termos a noção
disso. Este foi um dos livros que me deixou agarrada desde o primeiro momento e
confesso que não esperava que isso acontecesse. Ao ler a sinopse sabia que ia
gostar, mas nunca pensei que chegasse ao ponto em que chegou. Completamente
viciante e angustiante! Não me consigo imaginar a dizer apenas 100 palavras por
dia, nem viver num mundo em que as mulheres são humilhadas a este ponto, mas ao
mesmo tempo que este livro mostra um lado revoltante, consegue também ser
bastante original e actual. Os personagens estão bastante bem construídos e a
interação entre eles está muito bem feita. Foi muito difícil para mim ver a
Dra. Jean MacClellan a tentar controlar as conversas da filha para que ela não
sofra algum choque elétrico.
Quando
a vocês não posso dizer, mas tenho de vos dizer que fiquei um pouco marcada com
a leitura deste livro. É ficção? Sim…mas a verdade é que me deixou alerta para
o mundo em que vivemos. Ora estes temas são bastante sensíveis e quando agora, à
pouco tempo, o Instagram começou a bloquear algumas imagens com certas tags
fiquei completamente alerta para este tipo de situação. Quer dizer, um homem
pode ter fotos com calções de banho e uma mulher não pode colocar fotos em
bikinis? Mas para contextualizar isto, isto aconteceu com algumas bloggers que
publicaram fotos em bikini. As fotos eram publicadas nos perfis, mas se a procura
fosse feita através das tags (por exemplo: bikinigirl2019 - isto é só um exemplo, nem sei se esta tag
existe xD ) a fotos não iria aparecer na listagem de procura apesar da pessoa
ter sinalizado a mesma foto com a tag referida, uma blogger chegou mesmo a
publicar uma foto do namorado com a mesma tag e a foto não foi retirada da
listagem de procura, mas a foto dela era retirada. Não sei se, entretanto, as
coisas foram resolvidas, mas sei que isto é grave e com gestos tão insignificantes
como este algo pode estar a acontecer contra nós mulheres. ( Eu sei, adoro uma
boa conspiração!)
Agora,
quanto a este tipo de livro, espero que a editora volte a publicar livros deste
género. Adorei, viciei e quero mais!!!! :D
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