Romance
“Debaixo de Algum Céu”, de Nuno Camarneiro, vencedor do Prémio LeYa 2012
O
Júri do Prémio Leya reuniu nos dias 13 e 14 de Dezembro, em Alfragide, para
deliberar sobre a atribuição do Prémio, a que concorreram este ano mais de 270
originais, apresentados por autores residentes em Angola, Brasil, Canadá,
França, Inglaterra, Moçambique e Portugal.
O
Júri decidiu, por maioria, atribuir o Prémio Leya 2012 ao romance Debaixo de
Algum Céu, da autoria de Nuno Camarneiro.
O
Júri apreciou no romance Debaixo de Algum Céu a qualidade literária com que,
delimitando intensivamente a figura fulcral do "romance de espaço" e
do "romance urbano", faz de um prédio de apartamentos à beira-mar o
tecido conjuntivo da vida quotidiana de várias personagens - saídas da gente
comum da nossa actualidade, mas também por isso carregadas de potencial significativo.
Retrato
de uma microsociedade unida pelo espaço em que vivem os personagens, o romance
organiza-se a partir de um conjunto de vozes que dão conta de vidas e destinos
que o acaso cruzou num período de tempo delimitado entre um Natal e um Fim do
Ano. Ouvimos vozes, poemas, ladainhas, canções, que transportam memórias e
sentimentos e pontuam os encontros, desencontros e tragédias que de que os
moradores só se apercebem quando saem à luz do dia. A escrita é precisa e flui
sem ceder à facilidade, mas reflectindo a consciência de um jogo entre o desejo
de chegar ao seu destinatário, o leitor, e um recurso mínimo a artifícios
retóricos em que só uma sensibilidade poética eleva e salva a banalidade e os
limites do quotidiano.
O
júri destacou nesta obra o domínio e a segurança da escrita, a coerência com
que é seguido o projecto, a força no desenho dos personagens e destaca a
humanidade subjacente ao que poderá ser lido como uma alegoria do mundo
contemporâneo.
O
júri do Prémio LeYa 2012
Manuel
Alegre (Presidente)
José
Carlos Seabra Pereira
José
Castello
Lourenço
do Rosário
Nuno
Júdice
Pepetela
Rita
Chaves
Sobre
Nuno Camarneiro
Nuno
Camarneiro nasceu em 1977. Natural da Figueira da Foz, licenciou-se em
Engenharia Física pela Universidade de Coimbra, onde se dedicou à investigação
durante alguns anos. Foi membro do GEFAC (Grupo de Etnografia e Folclore da
Academia de Coimbra) e do grupo musical Diabo a Sete, tendo ainda integrado a
companhia teatral Bonifrates. Trabalhou no CERN (Organização Europeia para a
Investigação Nuclear) em Genebra e concluiu o doutoramento em Ciência Aplicada
ao Património Cultural em Florença. Em 2010 regressou a Portugal, onde exerce
actividade de investigação na Universidade de Aveiro e é professor na
Licenciatura em Conservação e Restauro na Universidade Portucalense do Porto.
Começou por se dedicar à micronarrativa, tendo alguns dos seus contos sido publicados
em colectâneas e revistas. Editou o seu primeiro romance, No Meu Peito não
Cabem Pássaros, na Dom Quixote, em Junho de 2011.
Sobre
o Júri do Prémio LeYa
Manuel
Alegre de Melo Duarte, Presidente do Júri (Águeda, Portugal, 1936), estudou
Direito na Universidade de Coimbra, onde foi activo dirigente estudantil.
Destacada figura da resistência, esteve preso e passou dez anos no exílio.
«Praça da Canção» e «O Canto e As Armas», apesar de proibidos, circularam
clandestinamente. Muitos dos seus poemas foram musicados e cantados. Deputado,
vice-presidente da AR, é membro do Conselho de Estado. Escritor e poeta,
recebeu entre outros, o Prémio Pessoa, o Grande Prémio de Poesia da APE e o
Prémio Dom Dinis pelo seu último livro «Doze Naus», Foi criada na Universidade
de Pádua uma cátedra com o seu nome sobre literatura portuguesa.
José
Castello (Rio de Janeiro, Brasil, 1951), é um crítico literário, escritor e
jornalista radicado em Curitiba. Mestre em Comunicação pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro, é Colunista do suplemento “Prosa & Verso”, de “O
Globo”. No Globo On Line, mantém o blog “A literatura na poltrona”
(www.oglobo.com.br/blogs/literatura). É colaborador regular do suplemento
Eu&, do jornal “Valor Econômico”, de São Paulo, e do mensal “Rascunho”, de
Curitiba. Foi cronista semanal de “O Estado De São Paulo” e editor dos
suplementos “Idéias/Livros” e “Idéias/Ensaios”, do “Jornal do Brasil” (Prémio
da Associação Paulista de Críticos de Arte e Prémio Estácio de Sá). Autor,
entre outros, de Ribamar (romance, Bertrand Brasil, 2010, semifinalista do
Prémio Portugal Telecom de Literatura 2011), A literatura na poltrona (ensaios
literários, Record, 2005), O poeta da paixão (biografia do poeta Vinicius de
Moraes, Companhia das Letras, 1993, prémio Jabuti), Fantasma (romance, Record,
2001, menção honrosa no Prémio Casa de las Américas) e Inventário das sombras
(retratos literários, Record, 1999).
José
Carlos Seabra Pereira é Professor de Literatura Portuguesa e de Teoria da
Literatura na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e na Faculdade de
Letras da Universidade Católica, leccionou na Universidade de Poitiers, em
França, onde obteve o Doctorat de Troisième Cycle. É autor de numerosos
trabalhos sobre temas de Literatura Portuguesa finissecular. Foi Presidente da
Comissão Científica do Grupo de Estudos Românicos, Director do Instituto de
Língua e Literatura Portuguesas e Membro da Comissão Coordenadora do Conselho
Científico da FLUC.
Lourenço
Joaquim da Costa Rosário (Marromeu, Moçambique, 1949) é doutorado em Letras e
licenciado em Filologia Românica pela Universidade de Coimbra e Bacharel em
Filologia Românica pela Universidade de Lourenço Marques, é Reitor da
Universidade Politécnica de Maputo, Professor Convidado na Universidade Eduardo
Mondlane, na mesma cidade, Professor Associado na Universidade Nova de Lisboa e
Professor Catedrático na Universidade de Lecce, Itália. Publicou várias obras e
tem mais de uma centena de artigos e entrevistas publicadas em jornais,
revistas científicas e informativas, sobre diversos temas. É Mestre de
Conferências na Universidade de Santiago de Compostela, em Espanha, e na
Universidade de Hamburgo, na Alemanha. Para além de outras funções ligadas à
defesa e preservação da língua portuguesa, faz também parte do seu vastíssimo
currículo a Presidência do projecto Fundo Bibliográfico da Língua Portuguesa.
Foi membro do Júri do Prémio Camões em 2003 e 2004 e do Concurso Ernst &
Young 2007.
Nuno
Júdice (Mexilhoeira Grande, Portugal, 1949) estudou Filologia Românica, em
particular a literatura medieval ibérica. Cedo começou a sua actividade de
crítico literário na revista O Tempo e o Modo. Figura influente da poesia contemporânea
em Portugal, publicou vários livros de poesia, romances e ensaios, já
traduzidos em diversas línguas. Nas décadas de 80 e 90 viveu na Suíça e, mais
tarde, regressou a Portugal para leccionar Literatura Comparada na Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Em 1996 criou a
revista Tabacaria, com sede na Casa Fernando Pessoa. Recebeu, entre outros, o
prémio de poesia Pablo Neruda (1973) e o Grande Prémio de Poesia da Associação
Portuguesa de Escritores (1994). Exerceu o cargo de Conselheiro Cultural na
Embaixada de Portugal em Paris até 2003, ano do seu regresso a Lisboa.
Pepetela
(Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, n. 1941 em Benguela, Angola) é um
dos mais conhecidos autores africanos de língua portuguesa. Estudou engenharia
no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, transferindo-se mais tarde para o
curso de Letras. Em 1963, torna-se militante do MPLA e, mais tarde, frequenta a
Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa, berço dos ideais de independência. Exilado
em França e na Argélia, gradua-se posteriormente em Sociologia. Em 1975, após a
independência do seu país, é nomeado Vice-Ministro da Educação no governo de
Agostinho Neto. Em 1997 ganha o Prémio Camões pelo conjunto da sua obra e, em
2002, é galardoado com a Ordem de Rio Branco, Brasil. Actualmente, é professor
de Sociologia na Faculdade de Arquitectura de Luanda, cidade onde reside.
Rita
Chaves é Doutora em Letras pela Universidade de São Paulo, Brasil, e Professora
e coordenadora de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa na mesma
instituição, é também investigadora associada do Centro de Estudos
Afro-Asiáticos da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro. É,
igualmente, uma conhecida crítica literária no seu país.
Sobre
o Prémio Leya
Com
características únicas pela sua especificidade e valor - 100 mil Euros -, o
Prémio Leya foi criado em 2008 no sentido de distinguir um romance inédito
escrito em português. Até hoje foram distinguidas com o Prémio LeYa as obras O
Rastro do Jaguar, do jornalista
brasileiro Murilo Carvalho, em 2008, O Olho de Hertzog, do escritor moçambicano
João Paulo Borges Coelho, em 2009, e, em 2011, O teu rosto será o último, de
João Ricardo Pedro, o primeiro autor português a vencer o prémio. Na edição de
2010 o júri decidiu, por unanimidade, não atribuir o Prémio LeYa.
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